segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Bem-vindo à Reforma

Seja benvindo à reforma!
Mesmo que esta se encontre longe do seu horizonte, imagine-se reformado.
Como gostaria de viver a sua reforma? O que é que está a fazer para a preparar?
Não me diga que nunca ouviu falar em preparação para a reforma?
Ou que, para si, é perda de tempo pensar em tal assunto, pois defende que planear a reforma é antecipar a velhice?
Se é essa a sua forma de pensar a reforma, aceite o meu desafio, e imagine-se reformado.
Um reformado, que estranhando a dimensão do tempo, se mantém entranhado, meses sem conta, no viciantante e rotineiro refúgio do relógio.
Um reformado, que por ausência de reflexão, se vê embaraçado na teia da rotina de uma vida passada, aquela que ainda lhe finge dominar o tempo.
Um tempo agora vazio.
Um tempo que se converteu, subitamente, em tudo e em nada.
Sabe quantos reformados conhecem ou conheceram esta realidade? E sabe porquê?
Será porque de um dia para o outro, a ausência de vínculo laboral e a mudança de identidade, não apenas profissional, mas, principalmente, social e económica, vivida na primeira pessoa, se converteu na ratoeira do desconhecido?
Ou porque a mudança acarretou consigo, oscilações, de papéis e estatutos, até então definidos, remodelando conceitos e viabilizando a emergência de quadros sociais complexos?
Se é certo que a reforma, entendida como processo de mudança, pode constituir uma fase de conflituosidade interna e externa, essa mesma forma de vivência, depende, em muito, da postura que assumimos até aí, do modo como vivemos, das atitudes e dos hábitos que desenvolvemos, das construções e da capacidade que, cada um de nós, teve e tem, em superar as fases mais complexas da vida.
Porque o perfil profissional define, inevitavelmente, o estatuto social, a passagem à reforma acentua, fortemente, o reflexo de um conjunto de factores de risco que, em conjugação, interferem de modo, mais ou menos decisivo, na promoção da identidade e da auto-estima do indivíduo.
Ao preparar-se a reforma, reduz-se, assim, o risco de desajuste psicossocial que possa emergir, promovendo-se a gestão individual e colectiva do tempo, a planificação de projectos e actividades de vida, a manutenção de redes sociais de vizinhança e de reforço familiar.
Se até então, o trabalho escondia ou permitia esquecer problemas existenciais, o novo tempo que surge, após a entrada na reforma, facilita, sem dúvida, a emergência de realidades, muitas vezes, problemáticas.
Neste âmbito, com o objectivo de não igualar a passagem à reforma a um passaporte forçado para o isolamento, a inactividade, a dificuldade económica e a dependência, é dever de todos nós, cidadãos, decisores políticos, dirigentes, públicos e privados, assumi-la, como uma etapa da vida, que à semelhança de muitas outras, pode e deve, lançar o repto à promoção de novas competências e oportunidades.
É necessário viver a reforma com atitude e perspectiva de mudança, assumindo-a como um desafio em aberto, natural e não imposto, localizado no cerne do crescimento e da evolução.
Se tivermos em linha de conta todo o processo de maturação, aprendizagem e adaptação que enfrentamos ao longo da vida, rapidamente nos apercebemos que em todas as fases de mudança, seja ela qual for, entre uma realidade e outra, nos preparamos, estudamos, frequentamos cursos e acções de formação.
A reforma é, por isso, nem mais nem menos, que um desses momentos.
Um momento, que no cenário de um mundo laboral em crescente mutação, apela à formação, ao treino e à aquisição de novas competências.
Neste âmbito, e em consonância com o apelo dirigido a cada indivíduo, algumas entidades empregadoras, dando resposta aos actuais desafios sociais e económicos, começam a preparar, como resposta a esta questão, a reforma dos seus colaboradores, oferecendo-lhes mais possibilidades de participação e desenvolvimento.
Ao preocuparem-se com a qualidade de vida e bem-estar dos seus colaboradores, enquanto cidadãos, as entidades empregadoras, têm vindo a revelar-se, progressivamente, interessadas em empreender estratégias de futuro, apostando em práticas de responsabilização ética e moral e valorizando as células mais importantes do tecido empresarial, as pessoas.
Urge, assim, criarmos estratégias integradas que prevejam medidas de saúde ocupacional objectivas, capazes de exceder o carácter redutor da saúde como indicador físico, fomentando, com transversalidade e dinamismo, acções de inclusão, adaptadas a cada realidade.
Trata-se de uma medida baseada na promoção do envelhecimento como processo activo em toda a sua amplitude, assente num esforço crescente, de dissociação face à tradicional dicotomia reforma/velhice.
Trata-se de um projecto colectivo de planificação e implementação de programas de educação e preparação para a reforma que, incluídos no âmbito da saúde ocupacional, deverão integrar propostas, efectivas, de alteração legislativa, adequadas a cada cultura empresarial, pública e privada, de modo a prevenir necessidades e solucionar problemas, como a solidão, o isolamento, a depressão, a violência, os comportamentos aditivos, o suicídio, as conflituosidades familiares, as dificuldades de gestão e administração do tempo, as novas e emergentes exigências sociais, etc.
Por tudo isto...e algo mais...aceite a minha sugestão.
Pense no amanhã...prepare o futuro...e seja BENVINDO À REFORMA!

Sem comentários: